27.11.06

 

Arte fora das galerias

Bares, restaurantes feiras e cafés: alternativas para artistas e sociedade

Promover exposições, mostras de arte e divulgar o trabalho de novos ou já renomados artistas, já não é privilégio de grandes galerias, museus e outros espaços destinados exclusivamente a essas atividades. Surgem cada vez mais nas grandes cidades brasileiras, lugares que mesmo não tendo sido criados inicialmente com esse fim, tem se dedicado a expor e tornar conhecido o trabalho de pintores, escultores fotógrafos designers etc. São os chamados “espaços alternativos”.

Em Belo Horizonte existe uma série de bares, cafés, restaurantes, livrarias e até lojas que, junto à sua programação normal - almoços, lanches, vendas de livros e de roupas - tem promovido exposições de artes plásticas, fotografia, design etc. Além de estreitar o espaço entre a arte e a sociedade, facilitando o acesso da população as obras de diversos artistas, essas iniciativas ainda aumentam a credibilidade do estabelecimento.

O Café com Letras, livraria situada na Savassi (zona sul de Belo Horizonte), tem promovido desde 96 (ano de sua fundação) exposições que visam estimular e ainda divulgar a produção cultural e artística da cidade. De acordo com a assessoria de imprensa do Café, a intenção era criar um espaço onde a degustação de livros pudesse conviver em harmonia com um cardápio requintado, mostras de arte e projetos especiais.

No mês de novembro, a livraria abrigou a 4a exposição do ciclo Filhos de Warhol, Netos de Duchamp, “um projeto especialmente desenvolvido para as artes plásticas com o objetivo de fomentar a produção incipiente, dar espaço e discutir os trabalhos de artistas, ilustradores, designers e fotógrafos, novatos na profissão”. Segundo a curadoria da exposição, a proposta é “discutir as interseções dos movimentos Pop e Dadaísta (movimentos artísticos iniciados na primeira metade do século XX) na produção atual e os limites entre a arte e o consumo”.

As feiras livres e feiras de arte e artesanato também aparecem como uma alternativa aos artistas plásticos e artesãos mineiros. Em cada regional de Belo Horizonte existe pelo menos uma feira funcionando, no mínimo, uma vez por semana. A mais conhecida delas, é a Feira de Arte e Artesanato da Avenida Afonso Pena (centro da capital). A Feira Hippie, como ficou conhecida devido ao grande número de hippies que expunham ali os seus trabalhos desde a sua fundação, existe há 37 anos e funciona sempre aos domingos das seis às 14 horas na Avenida Afonso pena. Atualmente são cerca de 3000 expositores divididos em 17 setores.

O artista plástico Elísio Orione expõe seus quadros na Feira Hippie há 10 anos. Segundo ele, espaços como o da Afonso Pena são importantes para o seu trabalho porque além de mostrar a sua arte, possibilita que ele a comercialize “Aqui na feira é bom porque eu posso vender” afirma. Elísio começou esculpindo quando criança e depois passou a pintar. O artista que vive exclusivamente da pintura também já expôs em bares e restaurantes como convidado.

Outra iniciativa “nada convencional” que tem descoberto novos talentos e levado a arte a públicos nunca antes alcançados, é o concurso “Arte no Ônibus”, realizado desde 2003 pela Empresa de Transportes de Belo Horizonte (BHTRANS) em parceria com empresas privadas. De acordo com o edital, qualquer cidadão brasileiro maior de 16 anos pode participar do concurso que seleciona obras a serem reproduzidas em forma de cartazes adesivos fixados nos painéis internos que ficam na parte de trás dos ônibus que circulam em BH. São escolhidos trabalhos nas categorias de artes plásticas, artes visuais e poesias. Os dez primeiros colocados em cada categoria, além de terem suas obras expostas nos painéis dos ônibus, recebem uma premiação que varia de quantias em dinheiro a aparelhos de celular.






Obras selecionadas para o concurso "Arte no Ônibus" em 2006

Exposição a céu aberto

As ruas da cidade também têm se firmado como um importante espaço para divulgação do trabalho, principalmente, de artistas desconhecidos. Na última década, o número de paredes e muros que sofreram e cada vez mais sofrem intervenções dos chamados artistas de rua cresceu visivelmente. Os grafiteiros ou “escritores urbanos” (termo utilizado pelos próprios artistas) fazem da rua sua galeria de arte permanente. Um cenário perfeito para tornar público e acessível um trabalho muitas vezes descriminado, tanto pela sociedade quanto pela crítica tradicional. Quem tem o hábito de transitar pelas grandes avenidas da capital mineira já deve ter observado um muro ou um viaduto “decorado” por um desses artistas.

O grafiteiro Denis Nascoli, 24 anos, disse que o grafite não existe sem a rua. Ele considera importante o artista encontrar outras alternativas como, por exemplo, a produção de telas, estampas de camisas, de bolsas etc. Até mesmo para facilitar a comercialização do seu trabalho. Mas, ainda segundo ele, a essência do grafite é a rua. “O grafite nasceu na rua, ele pode estar presente nas galerias e até na mídia, mas não pode deixar de sobreviver na rua” enfatiza o pintor.

Marginalizados, aceitos ou não, eles estão presentes nas grandes cidades, propagando mensagens, divulgando idéias, defendendo pontos de vista ou simplesmente pintando, enchendo de cor a paisagem da metrópole. A cada dia que passa, os escritores de rua conquistam respeito e status de artistas plásticos. Eles utilizam as ruas como plataforma de trabalho e fazem das paredes da cidade grandes telas, repletas de histórias, personagens e muita criatividade.


Detalhe do muro pintado pelos grafiteiros Edymoon e
Seres durante o 5º Festival do Lixo e Cidadania - agosto de 2006

Pedro Valentim

voltar

This page is powered by Blogger. Isn't yours?